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CINCO SENTIDOS E A NATAÇÃO INFANTIL – AQUA SENSORIAL

Autores como Vitor da Fonseca e Ligia Carvalho relacionam melhor resultado na aprendizagem infantil às crianças que são submetidas em segurança a maiores oportunidades de exploração em ambientes ricos em estímulos sensoriais diversificados.

Ambientes que as exponham às circunstâncias mais complexas e que requeiram percepções e ajustes mais organizados levam a criança a sentir e fazer julgamentos sobre o que há no ambiente, o que pode ser feito com os objetos, e quais ações específicas necessárias para atingir uma meta (Carvalho, L. 2008). A piscina é um ambiente favorável para a atividade com crianças e pode proporcionar muita diversão em família. Os professores de natação infantil da Clínica Márcia Ortiz, influenciados e constantemente estimulados pela rica exploração que o ambiente da piscina pode oferecer desenvolvem atividades que levam a criança e seus pais a experimentar novos desafios em aulas temáticas sensoriais. O objetivo é facilitar o acesso às atividades que enriquecem a estimulação sensorial de bebês e crianças e, consequentemente garantir respostas cada vez mais apropriadas aos estímulos sensoriais na infância. Também, buscamos informar pais e cuidadores a levarem os bebês a uma exploração mais rica do ambiente natural com atividades que tragam maiores possibilidades e melhor qualidade para aquisição de respostas adaptativas. Isso, em busca de que bebês e crianças sejam mais confiantes e ótimas aprendentes.

Nesta aula na piscina as crianças e bebês são levadas a um mundo de descoberta e sensações. As atividades são preparadas pela equipe para que os sentidos sejam despertados e melhor percebidos e com isso, trazemos a oportunidade de maior engajamento e participação na exploração do tato, audição, visão e olfato no decorrer da aula, enquanto as crianças brincam e aprendem na piscina.

A ideia é conectar o sistema neurofisiológico dos bebês e das crianças a uma maior exploração das habilidades sensório-motoras com base na percepção, no monitoramento e na regulação das informações do ambiente, garantindo possibilidades de respostas apropriadas aos estímulos sensoriais que estarão presentes na aula na piscina. O paladar fica para depois da aula, onde existe uma mesa de frutas a serem experimentadas pela turminha.

SUGESTÃO DE CIRCUITO COM ATIVIDADES NA PISCINA

1)Rampa –  cama de gato cuidadosamente preparada para proporcionar às crianças uma chegada na piscina com novas possibilidades psicomotoras. A criança terá que articular seu corpo numa nova estratégia para conseguir ir avançando na rampa de entrada da piscina. Ora mexendo uma perna mais para o alto para passar por cima de um obstáculo, ora se abaixando e mergulhando para vencer outro obstáculo que a impede de seguir sem a imersão. O tato é percebido em diferentes possibilidades ao raspar aqui e ali nos obstáculos largados pelo chão, chão da rampa e da fita da cama de gato. E assim, desbravará novas posições e movimentos corporais a fim de vencer uma etapa nesse circuito de brincadeiras sensoriais.  (TÁTIL)

2)Pesca no Pântano – vários objetos estarão presos na rede de pesca disposta do fundo da piscina. As crianças deverão pisar na rede, procurar pelo objeto que lhe interessa e tentar livrar o brinquedo da rede.  (TÁTIL /VISÃO)

3)Cascata – a sensação de um banho de cachoeira com a forte pressão da água caindo e saindo dos bicos de hidromassagem nos permitem sensações de tato e audição diferenciados. (TÁTIL /AUDIÇÃO)

4)Cabana/caverna – cantar e ouvir músicas com a lona da piscina disposta na parte mais funda da piscina formando uma espécie de cabana, conseguimos resultados de vivenciar um ambiente mais limitado e pequeno, com som e iluminação diferentes e isto nos remete a um passeio numa caverna. (VISÃO/AUDIÇÃO)

5)Equilíbrio na prancha – como num barco em alto mar, ou numa onda surfada, o equilíbrio será requisitado com um desafio constante na brincadeira e a sensação de balançar trará uma sensação ao labirinto de reequilíbrio constante. (SISTEMA VESTIBULAR)

6)Cheirinho bom – as crianças serão convidadas a sentir um cheiro e tentar adivinhar de que é aquele cheiro. Se é bom ou ruim. Os bebê experimentarão novos cheirinhos: folha de limão, essência de eucalipto??, etc…  (OLFATO)

7)Caça aos tesouros –  buscar tesouros no fundo da piscina envoltos em tule para que a experiência visual e de toque possa ser amplificada.  (TÁTIL/VISÃO)

8)No varal sensorial, dispomos pendurados vários tipos de brinquedos, tecidos e materiais que produzem sons como chaves e instrumentos musicais variados. (VISÃO/AUDIÇÃO/TÁTIL)

9)Mesa de frutas – degustação de frutas variadas dispostas numa mesa repleta de cores e sabores. (PALADAR/VISÃO)

 

SISTEMAS E SENTIDOS

SISTEMA VISUAL

O sistema visual proporciona: Visão para o reconhecimento e localização de objetos. Controle dos movimentos oculares. Informações usadas no controle dos movimentos posturais e das extremidades.

  • PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES VISUAIS

As informações visuais que chegam ao córtex visual primário estimulam os neurônios que discriminam a forma, o tamanho ou a textura dos objetos. As informações transmitidas às áreas adjacentes, chamadas córtex de associação visual, são analisadas quanto às cores e ao movimento. Do córtex de associação visual, a informação vai para outras áreas do córtex cerebral onde as informações visuais são usadas para ajustar movimentos ou para identificar visualmente objetos. A corrente de informações visuais que flui dorsalmente é chamada corrente de ação porque essas informações são usadas para direcionar movimentos, e a corrente de informações visuais que flui ventralmente é chamada de corrente de percepção porque essas informações são usadas para reconhecer objetos visuais.

 SISTEMA SOMATO SENSORIAL TÁTIL E PROPRIOCEPÇÃO

  • SISTEMA TÁTIL

O sistema somatossensorial é geralmente subdividido em dois sistemas distintos.

As informações sensoriais da pele são designadas como superficiais ou cutâneas. As informações sensoriais superficiais incluem o tato, a dor e a temperatura. A sensação do tato inclui a pressão e a vibração superficiais. As informações sensoriais do sistema músculo-esquelético, em contraste, incluem a propriocepção e a dor. A propriocepção fornece informações relativas à distensão dos músculos, tensão sobre tendões, posição das articulações e vibração profunda. A propriocepção inclui tanto a sensação posicional articular estática como a cinestésica, as informações sensoriais sobre o movimento. Existe uma distinção entre informações sensoriais (impulsos nervosos gerados a partir dos estímulos originais) e sensações (reconhecimento de estímulos provenientes dos sentidos). A percepção, a interpretação de sensações em formas dotadas de significado, ocorre no cérebro. A percepção é um processo ativo de interação entre o encéfalo e o ambiente. Perceber envolve, além de interpretar sensações, um agir sobre o ambiente – mover os olhos, mover a cabeça ou tocar objetos. Nossos cérebros requerem certa quantia de informação tátil. Esta exigência varia de tempo em tempo e em várias situações. Se nós não obtivermos o input tátil, ou se não saciarmos nossos cérebros, nós reagiremos com “fome” de toque. Crianças que não registram a informação tátil sempre “têm fome”. Eles podem estar tocando alguém ou algo constantemente, até mesmo quando tocar é impróprio. Eles também podem ignorar a intensidade do toque e estar impossibilitado de julgar quanta pressão ou força devem aplicar. Independentemente de como a disfunção do sistema tátil se manifesta, as crianças nestas condições precisam ser tocadas e ter tipos diferentes de experiências táteis, mas estas experiências devem ser cuidadosamente dirigidas para ajudar corretamente nas mensagens que são recebidas erroneamente pelo cérebro. Se sua criança recebe terapia para uma disfunção do sistema tátil, o terapeuta pode discutir com você, em maior profundidade, os elementos específicos do problema de sua criança.

  • PROPRIOCEPÇÃO

Mesmo de olhos fechados somos capazes de saber exatamente em que posição está as diversas partes de nosso corpo em cada momento. Assim também somos capazes de perceber os movimentos dos membros e do corpo em geral. Esse tipo de percepção se chama propriocepção, um termo criado pelo fisiologista inglês Charles Sherrington (1857 – 1952) para indicar a “percepção do próprio corpo”, em oposição à exterocepção (percepção de estímulos externos) e a interocepção (percepção dos estímulos internos,

originários das vísceras). Sherrington (1890) definiu propriocepção como “… nosso sentido secreto, nosso sexto sentido”, aquele fluxo sensorial contínuo, mas inconsciente, das partes móveis de nosso corpo (músculos, tendões, articulações), pelo qual sua posição, tono e movimento são continuamente

monitorados e ajustados, porém de um modo oculto para nós por ser automático e inconsciente. “ É o sentido de nós mesmos; afinal, é apenas graças a propriocepção, por assim dizer, que sentimos nossos corpos como de nós mesmos, como nossa propriedade”, como nossos”.

 APARELHO VESTIBULAR

O aparelho vestibular é um órgão proprioceptivo. Funcionalmente, ele está envolvido na manutenção do equilíbrio da cabeça e corpo. Como o sistema vestibular está intimamente conectado com os sistemas auditivo, visual, proprioceptivo e motor, ele trabalha em cooperação com um número de outros sistemas para modular funções importantes. Pesquisas sugerem que o sistema vestibular se conecta com uma variedade de impulsos sensoriais e faz ajustes em sua sensibilidade à posição no espaço e movimento. O sistema vestibular tem sido envolvido na influência do tono muscular, manutenção da mira visual, direcionalidade espacial, orientação da cabeça e corpo, influência no aprendizado e desenvolvimento emocional. O aparelho vestibular é uma estrutura membranosa localizada na região temporal do crânio, no ouvido interno. É subdividido em cóclea (que está primariamente envolvida na audição), vestíbulo e três canais semicirculares. Uma característica em comum entre o sistema auditivo e vestibular é que eles compartilham da mesma raiz de nervo craniano.

PAPEL VESTIBULAR NO CONTROLE MOTOR

Além de fornecer informações sensoriais sobre o movimento e a posição da cabeça, o sistema vestibular exerce dois papéis no controle motor: estabilização do olhar e ajustes posturais. Os ajustes posturais são obtidos por conexões recíprocas entre os núcleos vestibulares e a medula espinhal, a formação reticular, o colículo superior, o núcleo do XI nervo craniano e o cerebelo. Esse sistema desempenha duas funções sensório-motoras vitais para a sobrevivência da espécie: a detecção do movimento e a detecção da gravidade.

 PALADAR

paladar é um importante sentido do corpo humano que nos permite reconhecer os sabores, além de sentir a textura dos alimentos ingeridos. A língua é o principal órgão desse sentido e é capaz de diferenciar entre os gostos doce, salgado, amargo, azedo e umami.

 

CRIANÇAS COM RESPOSTAS ADAPTATIVAS CADA VEZ MAIS COMPLEXAS

Como resultado de uma maior vivência e oportunidade de experimentação no ambiente rico em estímulos sensoriais diversificados temos crianças com maiores possibilidades de respostas adaptativas mais frequentes. Ambientes que as exponham às circunstâncias mais complexas e que requeiram percepções e ajustes mais organizados levam a criança a sentir e fazer julgamentos sobre o que há no ambiente, o que pode ser feito com os objetos, e quais ações específicas necessárias para atingir uma meta. O desenvolvimento de habilidades de percepção e ajustes mais complexos ocorrem quando a criança, sem segurança, é motivada pelos pais ou professor a experimentar novos desafios, sendo influenciada e constantemente estimulada pela rica exploração do ambiente em que está inserida. Quando a criança estiver respondendo adaptativamente à demanda do ambiente, ela se mostrará mais criativa, eficiente e satisfeita. A criança que se expõe às brincadeiras que um ambiente natural oferta terá maior chance de desenvolver-se com confiança e maior auto-estima para enfrentar os desafios inerentes da aprendizagem na escola.

Nosso objetivo é facilitar o acesso às atividades que enriquecem a estimulação sensorial de bebês e crianças e, consequentemente tenham garantidas respostas cada vez mais apropriadas aos estímulos sensoriais e maior propriocepção. Também, buscamos informar pais e cuidadores a levarem os bebês a uma exploração mais rica do ambiente natural com atividades que tragam maiores possibilidades e melhor qualidade para aquisição de respostas adaptativas. Isso, em busca de que bebês e crianças sejam mais confiantes e ótimas aprendentes.

 

PROBLEMAS SENSORIAIS

Estes problemas podem estar relacionados com algumas patologias como autismo, TDAH e paralisia cerebral. São considerados problemas de DISFUNÇÕES DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL, segundo um modelo didático para compreensão da classificação das disfunções sugerido por Hanft et al apud Magalhães e Hallway, estas 3 categorias:

1 DISFUNÇÕES DE MODULAÇÃO SENSORIAL

Modulação é a habilidade para monitorar e regular as informações, garantindo uma resposta apropriada a um estímulo sensorial. A disfunção de modulação sensorial pode ser definida como problemas no ajuste e processamento das mensagens neurais que carregam informações sobre a intensidade, frequência, duração, complexidade e novidade de estímulos sensoriais.

2 – DISFUNÇÕES DE DISCRIMINAÇÃO SENSORIAL

Fisher et al. assinalaram que a diminuição da habilidade para discriminar toques, movimentos, força ou as posições do corpo no espaço pode ser interpretada como sinal de pobre processamento central das informações sensoriais. Os déficits de discriminação apresentam-se relativamente estáveis ao longo do tempo, diferentemente dos problemas de modulação, que podem apresentar flutuações.

3 – DISFUNÇÃO DE PLANEJAMENTO MOTOR

 

IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DECORRENTES DA DIS

As crianças com disfunções de integração sensorial podem apresentar características típicas que vão ter implicações nas atividades pedagógicas e no comportamento no ambiente escolar.

Crianças hiper-responsivas com baixo limiar aos estímulos táteis, sonoros, a movimentos e luzes

Crianças hipo-responsivas com alto limiar aos estímulos táteis, proprioceptivos, vestibulares

Crianças com dificuldades na discriminação tátil, proprioceptiva e vestibular e transtornos motores (coordenação e planejamento motor)

 

CONSEQUÊNCIAS DA DIS SOBRE AS EMOÇÕES E COMPORTAMENTOS DAS CRIANÇAS

  • Apresentam baixa auto-estima, são inseguras, lábeis, e reagem mal a situações de frustração.
  • Podem apresentar comportamentos impulsivos, hiperativos ou de desatenção.
  • Em geral partem para agressões físicas quando são contrariadas.
  • São desmotivadas a fazer atividades acadêmicas que exijam a leitura e escrita e demonstram um “cansaço” para essas tarefas.
  • Ficam isoladas no grupo ou pelo grupo e apresentam comportamentos imaturos para serem aceitas.
  • Os meninos podem buscar atividades consideradas mais “femininas” e acabam por se identificar com as mesmas por se sentirem mais competentes e aceitos.

 

ESTRATÉGIAS SENSORIAIS QUE PODEM AUXILIAM NO DESEMPENHO NAS AULAS DE NATAÇÃO

Algumas atitudes diferenciadas no comportamento do professor serão necessárias durante as aulas. Algumas dicas:

  • O excesso de estímulos visuais pode levar a uma desorganização na criança. Cuide para que os materiais que irá utilizar na piscina estejam organizados e leve para a borda da piscina somente o que irá utilizar naquele dia de aula.
  • Reorganizar a piscina após o término de cada atividade anunciando a próxima atividade e a organização necessária para a mesma.
  • Para melhorar o estado de alerta da criança o professor poderá fazer pequenas pausas sugerindo músicas, sons e ritmos acompanhados com movimentos dos braços/pernas.
  • Antes de iniciar atividades que utilizam materiais que podem ser aversivos como macarrão, boia, prancha ou tapetes com texturas variadas, convide a criança a esfregar uma mão na outra ou apertar uma contra a outra. Isto, pode diminuir a defensividade.
  • Nos casos em que a criança tem dificuldade em manter o movimento por longo tempo, o professor pode sugerir alongamentos esticando os braços e o corpo e criar possibilidades de pequenos movimentos a cada chegada.
  • As crianças que apresentam maior dificuldade de manter a atenção não devem ser colocadas em horários com maior movimento na piscina.
  • O uso de sons ou mudanças no tom da voz pode auxiliar na organização sensorial quando o ambiente estiver muito tumultuado ou mesmo como estratégia durante a aula.
  • Após o professor dar uma explicação para a turma, a mesma poderá ser repetida individualmente para a criança com DIS e ao fazê lo usar o toque nos ombros, nas mãos para chamar sua atenção.
  • Nas atividades em grupo promover jogos, brincadeiras que utilizem a coordenação motora grossa usando modalidades de circuitos favorecendo a integração dos estímulos sensoriais.
  • Os sons e o barulho na aula devem ser controlados, desde a voz do Professor e do grupo como um todo. A criança que é hiperresponsiva aos sons se desorganiza ou tem repentes de irritação quando o ambiente está muito conturbado em relação aos sons. Outras formas de comunicação são necessárias como, a música, o estalar de dedos como indicadores de início ou término de atividades.

Por Marcia Ortiz

 

Referência bibliográfica

Ligia Maria Godoi Carvalho – Curso de Integração Sensorial, 2010.

FONSECA, V.: Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem, Porto Alegre, Ed. Artmed, 2008.

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